Por: Bruna Alcântara
“NÃO SEI O QUE SERIA DE MIM, SE NÃO FOSSE POR MINHA ALTURA”.
“NÃO SEI O QUE SERIA DE MIM, SE NÃO FOSSE POR MINHA ALTURA”
Diz Maria Feliciana, a sergipana que é considerada a “Rainha das Alturas”.
Maria Feliciana nasceu no dia 27 de maio de 1946, no município de Amparo de São Francisco. Filha única, seu pai medindo cerca de 2,40cm e sua mãe com estatura normal, eram muito pobres e por isso ela teve sua infância e adolescência muito sofrida. Com 16 anos vem à Aracaju e encontra Josa, o “Vaqueiro do Sertão”, que a introduz na vida circense.
Junto a Dominguinhos e Luís Gonzaga, viaja para São Paulo para participar do Programa Silvio Santos, e “Hora da Buzina” do apresentador Chacrinha onde ganha a faixa Rainha das Alturas como mulher mais alta do Brasil.
Em entrevista, Feliciana abriu seu arquivo pessoal de jornais e fotos e com saudade, relembra por onde passou e contou dos prêmios que conquistou. Conta sobre sua infância e adolescência, sobre suas viagens e fala sobre sua fama pelo Brasil inteiro por conta da sua altura. Fala sobre o sentimento de representar o menor estado do Brasil em diversos níveis da fama. Também fala sobre sua vida hoje em dia, agora idosa, onde se vê esquecida pelas autoridades locais.
“Levei o nome de Sergipe por todos os lugares por onde passei, e amo meu estado. Quero viver aqui, e morrer aqui.”
Onde a senhora nasceu? E como foi a sua infância?
Maria Feliciana: Eu nasci em Amparo de São Francisco. Nasci e cresci até meus 16 anos, saí para vir para Aracaju e desde essa data até hoje, eu não saí mais daqui. Sou filha única, e toda vida eu trabalhei na roça, pegando firme na enxada. Eu comecei a trabalhar plantando né, para ter o pão de cada dia de meus pais. Eu até já cheguei a comer farinha com água para entregar os restos do que eu recebia para os meus pais. Uma vida muito sofrida, sabe?
Como a senhora cresceu tanto? Tem parentes que também possuíram grande estatura?
Sabe filha, meu pai tinha 2,40 de altura. A minha tia e minha avó também era mulheres bem altas. E além de mim, meus filhos também são tudo grandão. O Charles e o Cleverton que também tem 2,10 de altura. A família é de gente alta viu! (risos) Eu fui “espichar” mesmo a partir dos 10 anos, e estiquei mesmo, com 16 anos, eu já tinha 2,25.
A senhora teve dificuldades com a sua estatura em sua juventude e vida adulta? E costumavam rir da senhora ou fazer piada com a sua altura?
Bem, para me relacionar com as pessoas minha filha, era meio difícil por eu ser muito “altona” e as pessoas serem baixinhas perto de mim. Então elas levantavam bem a cabeça para olhar para mim, e eu tinha que olhar bem para baixo. Ás vezes, elas subiam em alguma coisa pra me encarar! (risos) Mas a minha dificuldade era mais com roupa. Roupa eu sempre tive que mandar fazer. Eu comprava o tecido e levava pra costureira. Eu nunca fui numa loja para encontrar roupa para mim. Faziam muita piada de mim por isso. Me chamavam de coqueiro, perna de pau, girafona. As pessoas ficavam admiradas, todo mundo ficava olhando para mim onde eu passava, sempre chamei atenção. Mas isso nunca me incomodou, eu até gostava. E gosto até hoje. Não sei o que seria de mim, se não fosse por minha altura.
E a sua fama pelo Brasil, como se iniciou?
Minha fama começou quando eu senti a necessidade de trazer o pão de cada dia para meus pais. Meu pai, tadinho, ficou cego e minha mãe era de idade. A gente sempre foi muito pobre sabe minha filha? E eles não tinham outro filho para dar de comer a eles. Aí eu saí de minha cidade pra trabalhar pra dar uma vida melhor pra eles. Na viagem, eu conheci Josa, o “Vaqueiro do Sertão” e ele me levou para viajar com ele, me apresentando com uma mulher mais alta do Brasil. Nessas viagens eu fui até o programa do Silvio Santos, e no programa do Chacrinha. Lá eu recebi uma faixa de mulher mais alta do Brasil, e ele me chamou de “Rainha Das Alturas”. Conhecer o Chacrinha pessoalmente foi muito bom! Ele do meu lado ficava bem miudinho (risos). Eu me apresentava no circo, no cinema, e nos clubes também, e sempre me apresentei com a mulher mais alta do Brasil. Eu colocava a coroa, a faixa, e um vestido bem longo. O sanfoneiro que andava comigo começava a cantar, me anunciava, e eu desfilava para o público. Eu também cantava, mas era só a última música.
E a sua história com o forró, como se sucedeu?
Então minha filha, depois do programa do Chacrinha eu conheci o Luíz Gonzaga, e ele me deu uma coroa e também me chamou de “Rainha da Altura”. Na Unit (Universidade Tiradentes) tem até uma placa minha em pé mostrando a minha altura, e tá lá também minha coroa e a minha faixa. Receber essa faixa foi o maior presente da minha vida. Já fiz show com Josa, o “vaqueiro do sertão”, que me levou para fazer muitos shows com ele. Também eu já cantei no “Trio Nordestino” onde viajamos muito fazendo shows pelo Brasil. A gente se apresentava em circo, em cinema, no pano de roda, onde encontrasse espaço, a gente trabalhava. Levei o nome de Sergipe por todos os lugares por onde passei, e amo meu estado. Quero viver aqui, e morrer aqui.
E o namoro e casamento? Como a senhora constituiu sua família?
Eu casei com o meu primeiro namorado. Com 27 anos, eu me casei com um locutor que se chamava Assuíres José dos Santos, de minha cidade. Ele já é falecido, morreu em um acidente de carro, mas me deu 3 tesouros, que são meus filhos. Meu marido tinha que ficar na pontinha do pé, ele não era tão baixinho, mas ele perto de mim ficava abaixo do meu seio. Pra beijar, eu tinha sempre que ficar sentada para ele poder me alcançar. Mas nada me impediu de casar. Eu casei, tive meus três filhos, todos com parto normal. Primeiro veio Charles, depois Shirley, que foi a única que nasceu em casa, e Cleverton que é o caçula.
A senhora sabia que tem um prédio com seu nome como apelido? O Edifício Estado de Sergipe, que fica no centro da cidade, mais conhecido como Edifício “Maria Feliciana”. Como a senhora se sente em ter um edifício tão importante pra nossa cidade tendo seu nome como apelido?
Eu fico muito agradecida de ter um edifício tão importante com meu nome. E eu sabia viu? Eu até fui lá e fui ver assim de perto sabe? As pessoas sempre chamam de Maria Feliciana. “Bora ali no Maria Feliciana”. Eu gostaria muito de ter meu nome como meu nome no prédio sabe, mas o governo não deixa. Mas mesmo ele não colocando, o povo ainda chama assim.
E sua vida hoje dona Feliciana, como está?
Minha vida minha filha, é essa vida que você vê né. Eu estou em cima da cama, por conta de que eu tenho trombose, osteoporose e úlcera nos dois pés, é por isso que eu não posso andar. O governo me dá uma pensão de R$ 1200,00, às vezes não é suficiente, pois eu pago medicamentos, fraldas e tudo mais. E além dessa pensão que o Estado me dá, eu também recebo ajuda da minha cidade natal, Amparo de São Francisco. E assim que eu vivo minha filha. A UNIT paga meu plano de saúde, me ajuda com exames e com curativos, graças a Deus. Eu sempre agradeço a Deus por tudo né? Deus, Ele é tudo na vida da gente. E minhas portas estão sempre abertas para qualquer pessoa que quiser vir me visitar. Ouvir minha história, ou fazer uma doação. Eu recebo gente de Brasília, gente de São Paulo, gente do Maranhão, gente da Bahia, que vem aqui me visitar e me ver. Mas é muito mais fácil vir gente de outros estados, do que a gente do meu próprio estado me visitar, finaliza Maria Feliciana.
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